1º# Carta para o teu pai. Hey daddy. Lembras-te de mim? Sou eu, a tua pequenina, de apenas 3 anos. Eu tenho saudades sabes? A mãe diz que nós temos de voar para longe, porque tu não mais nos queres por perto. A verdade é que eu não percebo papá, eu não quero abandonar-te. 
Eu quero que tu me contes histórias de princesas antes de adormecer e me confortes com um beijo na testa e por entre a melodia da leitura me desejes bons sonhos. Quero que me levantes no ar e rodes e me faças sorrir como nunca, enquanto gritas que sou a menina mais linda do mundo. Eu sempre quis que me levasses ao primeiro dia de escola e que fosses ver o meu primeiro jogo de basquetebol e que me ensinasses a nadar. Eu nunca planejei nada, mas eu sempre te vi como uma figura representativa na minha vida como o símbolo do infinito, mas em vez disso tu não estavas lá. Não estavas parado em frente ao pesado portão da minha escolinha, tal como todos os outros pais a acenar-me e a desejar-me um bom dia de escola, não estavas lá quando marquei o meu primeiro cesto, não vibraste de orgulho e muito menos estiveste lá a agarrar-me firmemente a mão enquanto me proferias calmamente “ Eu não te largo princesa, agora bate os pés com força, não tenhas medo o pai está aqui” como eu sempre imaginei que estarias. Não me acompanhaste em cada passo que até hoje dei, não presenciaste as minhas vitórias, não me apoiaste nas derrotas, não gritaste ao mundo o quanto orgulhoso estavas da tua filhinha. Eu tive medo sabes? Houve tantos momentos em que eu fechei os olhos e agarrei com força a única lembrança que a ti me unia e desejei que estivesses aqui, do meu lado, agarrar-me a mão e sussurrares no meu ouvido que iria ficar tudo bem, como das vezes em que eu caia no parque. Oh como eu acreditei ferozmente que um dia próximo, iria voltar a ver-te passar aquela porta com os braços abertos e o maior sorriso do mundo pronto para me envolveres fortemente contra ti. A verdade é que não estiveste em nenhum desses momentos, a verdade é que por mais que eu esperasse tu não ias voltar, muito menos o planejavas fazer. E eu? Acostumei-me a isso. Aprendi, sem qualquer outra escolha, a viver da tua ausência, a abstrair-me do amor que tinhas dentro desse teu órgão que supostamente deveria redigir-se a mim. E sabes papá? é que eu nunca me importei demasiado com isso. Oh e de tantas feridas que tu não saraste, e das vitórias que não gritaste em plenos pulmões para os céus, e os momentos de felicidade que não partilhamos e as lágrimas que não secaste, irás fazer sempre parte da minha vida. E ainda ah tempo ele é relativo, ele sabe esperar e um dia, num futuro próximo, sem compromissos, volta. Ainda estás a tempo de me protegeres, de gritares de felicidade comigo, de me abraçares forte e me deixares chorar no teu ombro e até de me desejares as boas noites com um beijinho na testa e me afagares os cobertores e oh, eu ainda quero ser a tua pequenina, eu serei sempre a tua pequenina. Só mais uma coisa, eu amo-te papá.