terça-feira, outubro 16

Carta para um estranho

E hoje decidi escrever pra ti. São apenas vocábulos inúteis pois tu nunca os irás ler, mas escrevo porque preciso que os pensamentos me deixem a alma e porque tudo o que escrevo, assim como nunca irás ler, também nunca irás ouvir. Quero dizer que te odeio. Odeio-te porque és um fraco, porque não és nada. E é triste sabes, quando eu não percebia as coisas, eu admirava-te e defendia-te, defendia a tua ausência, defendia a imagem inocente que tinha de ti. E é triste, triste dizer que  tu não me dás pena das-me raiva e eu não aceito, já não consigo aceitar. Não aceito que não tenhas ficado por opção tua, que não tenhas telefonado uma única vez por vontade tua, não aceito a tua indiferença. Oh mas se tu soubesses o quanto dói, e dói tanto, dói na alma, no corpo, no coração. Dói tanto que me faz odiar-te. Merda. Era suposto seres meu pai, era suposto seres o homem que mais me vai amar na minha vida toda, e eu não sei se amas um bocadinho sequer, e é triste. Tu não mostras que amas, és um ponto de interrogação na minha vida, na minha mente. E tu não me és nada, eu nem te conheço, és um estranho, sei o teu nome e pouco mais. E é frustrante, as perguntas sem resposta. Porque? Eu tenho de saber, porque que foste, porque que nunca voltaste, não queres ou não podes? É o orgulho? Merda, eu sou tua filha o que que é mais importante que isso? Será que pensas em mim? Será que te arrepende todos os dias das tuas ações? Oh e eu espero que sim, espero que essa dor te consuma o interior como a tua ausência destrói o meu. E eu queria tanto ter um pai, mas não tenho, não posso e a culpa é tua. E custa, oh se custa, pensar se fosses um pai presente, pensar nos típicos momentos pai e filha que eu queria ter vivido contigo, queria ter sido a tua menina mas tu não deixaste, não me deste uma oportunidade. Que culpa tenho eu das tuas atitudes, das ações do passado? Dos teus erros com a mãe? E é por isso que eu não te perdoou, porque a escolha era tua e tu preferiste assim, preferiste ser um nada na minha vida, um estranho. E eu não perdoou, nem nunca vou perdoar porque agora já é tarde, porque agora eu já senti a dor da tua ausência, porque agora eu já aprendi a viver sem ti e tu não quiseste ser parte da minha vida e eu agora não te vou dar o prazer de fazer parte da tua e oh, a culpa é toda tua.