Paixão. O frio paralisava-me o corpo e o ar gélido invadia-me o interior. Debruçada no parapeito da janela, com uma chávena de chocolate quente entre mãos, como meio para tentar aquecer tanto o corpo como a alma. Olhei o azul do céu e por momentos pareceu-me tão perto, que poderia toca-lo. Sentia falta de algo, de alguém. Eu sabia bem o que me consumia o interior desta maneira. Era o medo de fraquejar, as saudades, a sobrecarga da escola mas principalmente eras tu o causador deste medo, desta ânsia, deste misto de sentimentos que corria pelas minhas veias vindos do órgão principal. O pronunciar do teu nome arrepiava-me dos pés à cabeça. A tua voz enchia-me os ouvidos, como se fosse a mais bela das melodias, os teus olhos eram tão intensos que quase penetravas a minha mente com um simples olhar e derretias-me por dentro com um mero sorriso. Consumias-me cada vez mais a teu proveito. Mais dependente de ti, agora, eu, já não conseguia praticamente mover-me sem ser a teu favor. Exagero talvez. Mas a verdade é que eu estava demasiado dependente de ti, do teu amor e da tua atenção. «E se um dia tudo mudar? E se ela deixar de se concentrar em mim?» São perguntas que às vezes preenchem a minha mente de uma forma avassaladora. Fecho os olhos contra o sol, inspiro o ar lípido, «não quero pensar nisso.» Mas de vez em quando esse pressentimento persegue-me e invade a minha mente de tal maneira que às vezes é o perturbador do meu sono. Estes dias têm sido cansativos e esgotadores que mal consigo mover o meu corpo, até a mente me pesa. Pousei a caneca, dirigi-me até ao computador e decidi procurar o conceito de paixão. “A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde a sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e a sua capacidade de raciocínio” Por outras palavras, praticamente vives para a pessoa que amas. Capacidade de perder o raciocínio, o meu foi-se há uns quantos dias. Paixão, paixão para mim é um misto de sentimentos, dos quais eu não sei lidar, metade deles estranhos, dolorosos e causador de sofrimento agudo e estúpido. Acho que a paixão é um sentimento que não se explica por palavras apenas se sente, e só quem já sofreu de tal doença sabe os estragos que pode causar ao coração, a alma e ao corpo. É um veneno onde a dosagem nunca é a suficiente, é uma coisa que vicia, que faz bem e mal, que te controla por vezes, que te faz delirar, que te faz sofrer, chorar, gritar, rir, estar feliz e triste em conjunto, é um sentimento em que raramente estás bem por completo, a não ser que não penses demais ao contrário de mim. Sou uma pessoa lógica e isto não me entra na cabeça. A rapariga fria, insensível, segura, implacável diria quase impenetrável, agora frágil, sensível, tímida, insegura e até ridiculamente romântica. É quase como tentar perceber de onde apareceu a vida. Num conceito em que aqueles que nada sabem junto com aqueles que já se deram a conhecer grande parte do desconhecido tentam decifrar se é um acontecimento positivo ou negativo. A verdade é que eu sinto-me bem, se não pensar demais, se não complicar de mais, só assim, a gostar de ti, cada vez mais. 
Pego a caneca, dou o último gole que me queima a garganta lentamente, olho atentamente o céu mais uma vez, respiro o ar puro quase como um sufoco e fecho a janela. «amo-te.»